Novo tempo.




Gracinha nem precisava
Ir falar com a parteira
Pois ela tinha já em si
A certeza verdadeira
Que dentro dela estava
A menina sua herdeira

A velha Cunhã lhe olhou
Com cara de vou morrer
Maria das Graças decida logo
O que tu vais fazer.

Maria Das Graças respirou fundo
Passou a mão na barriga
Sentiu a filha de raimundo
Dentro do peito dela
Uma coisa nova sentiu
E por uma amor desmedido
Essas palavras proferiu:

Cunhã eu nunca bebi sangue
Nem nunca feri ninguém
A minha vida mesmo
E nem sei direito de onde vem
Mas eu vou lhe dizer
Que a sorte a gente num escolhe
Um dia vem o destino
E a vida da gente engole
Hoje eu fui engolida
Por que cá não queria estar
Mas minha alma está ferida
Me diga Velha Cunha
Quem sou eu nessa vida.

A velha tomou em si
Uma força de outro mundo
E começou a contar pra Maria
O seu destino no mundo

Tua mãe virou matinta
Por que num tinha outro jeito
Anda ai pelos mato
Assombrando branco e preto
Era ela que ia ficá no teu lugá

Tu nasceu de um preto guerreiro
Que por aqui apareceu
Era também do terreiro
Onde foram te buscá
Da família de Tiana
A Mãe daquele lugá
Faz tempo que por cá
Nos temo a combinação
De fazê acordo
Entre a o Oca e o Barracão
Nós lá também tem festa
Pros nosso encantado dançá
E os homem de lá aqui vem
Pra menino fazê e menino levá


A filha que tu vai tê
Já tava comprometida
Pra o rei pequeno que tem lá
Por que nós te educamo Munira
Pra depois de um tempo
Nossos reino ajuntá

Tu vai resolvê as coisa
Com as mulhe lá da capela
Que nós aqui já aprendemo
Batê cabeça e acendê vela

A tua filha munira
Vai findar a tradição
Não vai tê mais cavalgada
Por que nós queremo vivê
No mesmo barracão

Decidimo isso
Por pena das criança
Que nós tinha que dá
Pra sê levada embora
Agora queremo cuidá
De tudo que é coisa que chora

Só que nós sabemo
Que num é agora não
Tem que nasce a escolhida
Que vai selá a união
Mas se a tua fô matinta
Num há de ser ela não
Teremo de esperá
A Munira pari então
E assim vai durá mais tempo
Tendo que fazê
Cavalgada e procissão



E isso minha filha
Só faz é nos dá Aflição
Num queremo mais ficá
Sozinha, sem nossos filho
Sem nossos irmão

Queremo se misturá
E viver do mesmo chão
Se tu tem uma filha agora
O acordo ta selado
Ela vira Cunhã
E fica no nosso cuidado
Casamo ela com rei
E ficamo lado a lado
Mas pra isso acontecê
Tu terás que aceitá
Que a Cunhã tu tem que sê
A morte entrou pela porta
Ta vindo me buscá
Manda chamar Monira
Pra co ela eu falá


Assim que eu morrê
Vocês vão lá se pintá
Bota o colar na cunha
E saiam pra cavalgá
Que se demorare mais
Criança num vão pegá

Tu já ta embuchada
Por que tava pela rua
Que aqui nos tudo sangra
É tudo na mesma lua

Monira apareceu
E a velha lhe falou
Maria decide logo
Por que eu mesmo já me vô

Maria que tava abaixada
Com força se levantou
Arrancou de si o vestido
E em tom bem alto falou
Pois de agora em diante
A Cunhã daqui eu sou
A velha deu um suspiro
E pro outro mundo passou
As outras velhas entraram
Pra suas palhas botar
E trouxeram pra Gracinha
Saia, lança e o maracá
Pra que ela anunciasse
O tempo que ia mudá!

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