Raimundo e a Profecia.





Quando Raimundo Chegou
 na porta do Barracão
foi logo se ajoelhando
e botando a cabeça no chão.

Ficaram parados na porta
Esperando  a convocação
Tava com o corpo moído
Das roladas pelo chão.

Mãe Tiana sentada
 num bem alto lugar
olhou pra Raimundo
e fez sinal pra ele entrar

Apontou pra um canto
onde os homens se arrumavam
e onde muitos tambores
calados esperavam

Raimundo chegou mais perto
Lhe deram atabaque na mão
E lhe ensinaram três toques
Pra tocar no barracão.



As mulheres foram entrando
Em muitos panos enroladas
Com suas cabeças cobertas
Todas muito caladas.

Mãe Tiana cantava
E todo mundo respondia
Iam avisando Raimundo
Quando o toque mudaria.

Mojubá
Mojubá
Abre os caminhos
Que ele que passá
Ê Mojubá
Ê Mojubá
Ele traz recado
É mensageiro de oxalá

Conte pra nós
O que quer dizer
E qual o recado
 que lhe faz aqui descer.

Oxalá mandou
Mandou eu avisá
Que nossa Rainha
Está vindo de lá

Oxalá mandou
Mandou eu lhe dizê
Que a profecia
 está pra acontecê.

Cantamo pra subir
Cantamo pra desce
Guardamo  seu recado
Depois dele recebê.

Mi-Ami-Mi
Eu quero jantá
E um gole de pinga
também eu vô tomá
que preciso de força
no caminho de voltá.
Ê mojubá
Ê Mojubá
Ele já partiu para o lado de lá

Êpa Babá
Êpá Babá
Confirme seu recado
Nosso rei Oxalá.

Eu já falei e vô confirmá
Que os povo separado
vão se misturá
Eu já falei e eu vô repiti
Que uma rainha
uma rainha vai pari.

Cantáro pra descê
Cantáro pra subi
E eu já fiz
O que vim fazê aqui.

Êpa babá
Êpa babá
Ilumina esse caminho
Ò Rei Oxalá.

Odo yá,
 Odo yá,
Historia de rainha
Nos conta Yemanjá.

Uma nossa rainha
Do reino descerá
E ela sobre o povo
Dessa terra reinará

Essa Rainha
eu vô lhe contá
será uma mãe
de água,  terra e ar

os segredos do fogo
também saberá
e do sei reinado
todos vão lembrá

Cante para mim
Para eu subi
Que o que eu sabia
Eu já contei aqui.

Odo Yá
Odo Yá
 quem te leva nos caminho
É o Rei Oxalá.


Cada mulher que rodava
E trazia seu recado
Raimundo mais forte batia
E mais ficava alarmado
Pois sabia que ele estava
Naquele enredo enrolado.
Atotô
Atotô
Obaluaiê
Conte para nós
O que devemos sabê

Toda coragem
que vai precisá
A nossa Rainha
do reino trará
Eu vou dizê ,
pode acreditá
Que essa Rainha n
ão vai fraquejá

A sua saúde
eu vou lhe trazê
Ela será forte
como tem que sê.

Cante pra subi
Que eu já vou lá
E quem me chama
É Rei Oxalá

Atôtô
Atotô
Obaluaê
É o nosso povo
Que vai lhe agradecê. 

Pra que quê é?


E quem foi que a andiroba descobriu?

Foi a Jatuira, estava boiando no rio.

Como ela fez para lhe espremê?

Cozeu os caroços até o óleo amolecer.

Como ela descobriu a sua função?

Curou uma ferida de espinho em sua mão.


Vamos Das Graças venha me repondê
O que é o Babaçu e o que dele fazê?

Do babaçu tudo vai se aproveitar
da palha se faz um paneiro e um colar
Se a palha estiver seca faço dela um tipiti
põe-se a bucha da castanha em poqueca de matapi

Tem outra coisa que eu vô te ensiná
essa trança apertada faz mais duro teu cocá.

Do babaçu, que mais tu vai dizê?
que serve pra fazer leite se o da mãe enfraquecer.

e a cabaça pra que te servirá?
Se eu me perder, eu vou ela soprar
pra fazer um bom barulho para os bichos espantar.

Quem fez primeiro o babaçu tecer?
foi a Jurema quem primeiro pos a mão
quando viu que dele vinha em cima o camarão.

Venha Gracinha Venha me dizê
o que da copaíba se poderá fazê?
Com a copaíba a pele eu vou curar
ponho ela na ferida, para bicho não minar
se a dor de barriga não quiser passar
um chá de copaíba haverá de curar
serve para no cabelo a caspa não se espalhar.

Da Copaíba o que mais tu vai dizê?

Foi o Pena Verde que lhe fez aparecer
quando uma sua tosse ela fez desaparecer.

A copaibeira também te servirá
pra o cabo do martelo e a perna do girá.
ela também te tira a coçeira dos lugá.
Espia essa cabacinha que eu vou te mostra
põe num molho em copaíba
e depois tu faz um chá
e assim é que se invita
uma barriga sem lugá.

O Caminho de Gracinha.

Essa é a égua de ti
criada pra te levar
pra onde tivé que ir
Pois minha filha
eu vou te contá
A historia do teu povo
que tu tem que sabê
desça dessa bicha
e vamos procurá
as coisa que tem no mato
que nós vamos tê que usá
Lembre sempre de gostá
do seu corpo na transformção
que o tempo passa
e as coisas vem e vão
As vez as coisa são pequena
outras vez são tentação
mas saiba sempre
tá com o controle na mão
não pegue coisa dos outro
que os outro vão atrás
e só tenha coisa que o braço
dê conta de suportá
quem consigo carrega muito
muito perderá
quem nada tem
nada lhe faltará
Lembre do que eu lhe disse
nos tempo de nossos passeio
maior de tudo é o mato
donde tudo está
procure por cá as coisa
onde tem tudo que precisá
se tiver um raio de sol
é lugar de se plantá
se por lá bate a lua
é trilha de caçá
Cada coisa tem seu valor
e tudo procura lugá
mesmo o rio que sempre corre
num canto igarapé será
lembre que as coisa grande
são coisa de conquistá
num é bom pegá escondida
melhor é sempre tu lutá
lembre que sê Cunhã
Haverá de lhe bastá
pra tu sabê bem das coisa
o valor que tu vai dá
Cada coisa tem seu valô
mas se tu é a cunhã
tu bonta quanto for
Quema sabe das coisa é a dona
sabe até o seu senhô
quando for pro teu povo
veja como é que faz
aprenda sempre os costume
que garante trégua e paz
As coisa solta no mundo
não vira nada não
nós só faz do mato paneiro
se botá nele as mão

Espia um meritizeiro
por onde vamos passá
aqui nos serve de ponte
pra nós num tê que nadá
quando tu olha de baixo
forte como ela é
tu nem pode imaginá
que ela é quase oca
e melhó de carregá
o meritizeiro caido
é ponte pra todo lugar
e em cima da sua casca quente
comida dá pra secá
e o braço do meritizeiro
faz uma vila toda boiá
Da fruta se faz o vinho
que vamo servi por lá
fermenta desda lançante
tomaremo antes de cavalgá
agora vamo catá umas folha
pra dona Chica levá
ela tá triste contigo
nem comê num queria
Tu vai sabendo que o que tu fez
foi das grande covardia
As mulhe da santa
pra cobra vão te entregá
e se ela não te comê
elas vão te pegá
pra ve o que tu entende
das reza que tempo lá.
dona xica vai dá a festa
da vrespa da procição
depois nós faz as pintura
e faz as invocação
das antiga mãe guerreras
que nossas égua guiarão
Vamo pegá a andiroba
pra ona chicá levá
me diga Das Graças
pra que ela servirá?

Gracinha subiu na pedra
portugues no peito disse
A arraia nada tranquila
boia nágua seu ferrão
mas se tu lhe pisa em cima
ela o deixará no teu tendão
põe andiroba por cima
hora em hora um arrancão
Se acaso estiver tão fundo
tome um gole com limão
tem uma vantagem na andiroba
sua mais valença o amargor
que distrai na boca do sujeito
o gosto de sangue e dor





O que faz a parida esta semente
tu vá me dizendo faz favor

Pode passar aquecida pelos peitos
e o leite não lá não secará
e passada sobre as crianças
afasta os bichos de lhe pegar
E se queima junto em mato seco
nuvem de inseto espantará

O que mais tu sabe da andiroba?
me dê uma maior explicação


Tira a espinha de goto de pequeno
cura tosse, fraquesa e roquidão
seca qualquer tipo de ferida
e bota sobre elas bom cascão
ajuda na tirada dos espinhos
e ajuda a arrancar o carnegão.

Se comeres coisa estragada
é bom das folhas fazer um chá
pois tudo que tiver na tua barriga
ele para fora botará.

O galho não faz parede
nem serve pra forrar o chão
mas é bom pra forrar berço
e pra por na cama do ancião
cura, as picadas e mordidas
serve para desinflamação
e além de tudo sara
 ferida de escorpião.

as sementes nascem de quadrilha
e boaim pelos rios nos temporais
ferve ela por dois dias
depois aperta elas no tipiti
o oléo se guada na cabaça
e ajuda até as vermes á sair.

Gracinha e o maracá





Quando Gracinha pegou o maracá
A Monira deu pra ela uma espiada
E gritou na cara de gracinha
Mais muito injuriada
Tu vai se cunhã?
Mas isso eu quero vê
Por acaso tu sabe
O que tem que fazê?
E sabe o que na cavalgada
Vai tê que acontecê?
Sabe o que é carvão
Genipapo e urucum?
Por acaso tu sabe
Que o barro do muiraquitã
Não pode ser qualquer um
Sabe contar as lua
Sabe quando plantar
E quando tem que colhê?
Pois eu sei que essas coisas
Tu num deve nem sabê

Gracinha que nem teve tempo
Da velha cunhã chorar
Viu como que por milagre
A velha se levantar
Pegou ela pelo braço
Tirou dela o maracá
Das Graças o que tu já disse
Tu num pode desdizê,
Agora a nossa cunhã
Tu vai tê que sê
Mas num te aperreia
Que eu vou te ensiná
Tudo que tu tem que sabê
Pra ficá no meu lugá
Gracinha não entendeu nada
Daquela situação
A cunhã não tava morta
E nem doente não
Tava mais viva que ela
E parecia um furacão
Pegou saia de palha
Trança de taboá
Dizendo que era pros dente
Dos bicho  ela pendurá
Cunhã por favor nos diga
O que foi que aconteceu
Que seu mal num estante
por milagre desapareceu
É que quando eu fechei o olho
Vi Una, jurema e jatuíra
Elas me disseram
Que pra cá eu voltaria
Pra melhó te prepará
Pra cuidá das nossas filha
Vou te contá a história
Do mundo desde o começo
Vou te ensiná as pintura
As festa e os adereço
Te explicá o que faz uma amazona
Da sepultura ao berço.
Gracinha engoliu seco
Peito cheio de aflição
Lá vinha mais coisa pra sua cabeça
E Raimundo no barracão
Onde tava seu homem
Enquanto ela se encontrava
Naquela situação
A velha dava ordens pra todos os lados
Falou pra Monira
Que  escondesse o desagrado
E fosse fazer da cerimônia o preparo
Que ela ia sair com Gracinha
Pras coisas lhe ensinar
E que ia na Vila
Com a cobra Grande tratar
Falar com as mulheres da Igreja
E com a Xica do Chá
Gracinha encheu o olho de lágrima
E se deixou um pouco chorar
Lembrando da traição
Contra quem lhe quis criar
Agora vamo lá fora
Que tem um povo á te esperá
Levantou o braço de Das Graças
Sacudiu o maracá
Chegou a nova cunhã
Que vai nossa tribo mudá
E trás consigo a Menina
Que  tudo nós vai juntá!
Agora vamo prepará a festa
Que antes que mude a lua
Nos havemo de cavalgá
Jacinta veio trazendo
Duas éguas forradas
A cunhã velha deu um pulo
Que gracinha ficou desconfiada
Que não tinha doença nenhuma
E era tudo outra cilada
Montou também na outra égua
E partiram em disparada.
pra resolver as confusões
que Das Graças deixou armada.

Novo tempo.




Gracinha nem precisava
Ir falar com a parteira
Pois ela tinha já em si
A certeza verdadeira
Que dentro dela estava
A menina sua herdeira

A velha Cunhã lhe olhou
Com cara de vou morrer
Maria das Graças decida logo
O que tu vais fazer.

Maria Das Graças respirou fundo
Passou a mão na barriga
Sentiu a filha de raimundo
Dentro do peito dela
Uma coisa nova sentiu
E por uma amor desmedido
Essas palavras proferiu:

Cunhã eu nunca bebi sangue
Nem nunca feri ninguém
A minha vida mesmo
E nem sei direito de onde vem
Mas eu vou lhe dizer
Que a sorte a gente num escolhe
Um dia vem o destino
E a vida da gente engole
Hoje eu fui engolida
Por que cá não queria estar
Mas minha alma está ferida
Me diga Velha Cunha
Quem sou eu nessa vida.

A velha tomou em si
Uma força de outro mundo
E começou a contar pra Maria
O seu destino no mundo

Tua mãe virou matinta
Por que num tinha outro jeito
Anda ai pelos mato
Assombrando branco e preto
Era ela que ia ficá no teu lugá

Tu nasceu de um preto guerreiro
Que por aqui apareceu
Era também do terreiro
Onde foram te buscá
Da família de Tiana
A Mãe daquele lugá
Faz tempo que por cá
Nos temo a combinação
De fazê acordo
Entre a o Oca e o Barracão
Nós lá também tem festa
Pros nosso encantado dançá
E os homem de lá aqui vem
Pra menino fazê e menino levá


A filha que tu vai tê
Já tava comprometida
Pra o rei pequeno que tem lá
Por que nós te educamo Munira
Pra depois de um tempo
Nossos reino ajuntá

Tu vai resolvê as coisa
Com as mulhe lá da capela
Que nós aqui já aprendemo
Batê cabeça e acendê vela

A tua filha munira
Vai findar a tradição
Não vai tê mais cavalgada
Por que nós queremo vivê
No mesmo barracão

Decidimo isso
Por pena das criança
Que nós tinha que dá
Pra sê levada embora
Agora queremo cuidá
De tudo que é coisa que chora

Só que nós sabemo
Que num é agora não
Tem que nasce a escolhida
Que vai selá a união
Mas se a tua fô matinta
Num há de ser ela não
Teremo de esperá
A Munira pari então
E assim vai durá mais tempo
Tendo que fazê
Cavalgada e procissão



E isso minha filha
Só faz é nos dá Aflição
Num queremo mais ficá
Sozinha, sem nossos filho
Sem nossos irmão

Queremo se misturá
E viver do mesmo chão
Se tu tem uma filha agora
O acordo ta selado
Ela vira Cunhã
E fica no nosso cuidado
Casamo ela com rei
E ficamo lado a lado
Mas pra isso acontecê
Tu terás que aceitá
Que a Cunhã tu tem que sê
A morte entrou pela porta
Ta vindo me buscá
Manda chamar Monira
Pra co ela eu falá


Assim que eu morrê
Vocês vão lá se pintá
Bota o colar na cunha
E saiam pra cavalgá
Que se demorare mais
Criança num vão pegá

Tu já ta embuchada
Por que tava pela rua
Que aqui nos tudo sangra
É tudo na mesma lua

Monira apareceu
E a velha lhe falou
Maria decide logo
Por que eu mesmo já me vô

Maria que tava abaixada
Com força se levantou
Arrancou de si o vestido
E em tom bem alto falou
Pois de agora em diante
A Cunhã daqui eu sou
A velha deu um suspiro
E pro outro mundo passou
As outras velhas entraram
Pra suas palhas botar
E trouxeram pra Gracinha
Saia, lança e o maracá
Pra que ela anunciasse
O tempo que ia mudá!

A ladainha







Maior que tudo é Deus
Depois nossa senhora
Que nos trouxe Jesus
Em muito boa hora
Jesus foi o cordeiro
Que Deus enviou
Pra redimir dos pecados
Que ele mesmo criou
Todo pecado é coisa do Cão
Que é um anjo caído
Que no céu
Fez confusão
Os pecados são sete
E eu vou lhes contar

Conta Oxaguiã
Que nós vamô escutá

Tem a inveja
Que é o do outro querer
E a preguiça
 que é nada fazer
A Ira é o ódio
dentro do coração
E a gula é comer
mais do que a precisão
A vaidade
é a si se admirar
E a luxuria
 que é os corpos desejar
Além desses  tem a avareza
Que negar o que sobra
a quem mais precisa

Jesus era de  Belém
Na Antiga Galiléia
E dizem era um rei
Esperado na Judéia
Por João foi batizado
Madalena perdoou
E foi Judescariote
o seu grande traidor
Pilatos lavou a mão
Jesus foi crucificado
e no terceiro dia
por Deus ressuscitado.

Lará, lará
Mataram o Rei
Que veio ensiná
Lerê, Lerê
Teve um povo que fez
Seu rei padecê

Jesus disse pra nós
Pros outros perdoar
E dar a outra face
Quando a gente apanhar
Pra fazer o bem,
 sem nem mesmo olhar
E ter sempre o amor
Em primeiro lugar



Mataram nossos rei
Depois dos dele matá
Quando não é a cruz
É o tronco pra pendurá

Conta Oxaguiã
Conta Oxaguiã
Nós queremo escutá
Se no meio do teu povo
Não tem em quem confiá

Depois que viu Deus
De Jesus a humilhação
Foi que resolveu criar
 o seu panteão
Feito todo dos seus santos
De reza e procissão
A rainha é Maria
Pelos santos adorada
Pode ser das dores,
Das graças  e imaculada
Perpetuo socorro
Do rosário e conceição
Mas todas são Maria
Do sagrado coração

Oxum da água doce
Do mar Yemanjá
Também eram mãe de Rei
No Reino de Oxalá

Maria era filha de Ana e Joaquim
Se casou com José, trineto de Davi

Santana é avó , a santa anciã
Aqui a gente tem a nossa Nanã

João Batista foi o santo
Que Jesus Batizou
Foi uma homem forte, guerreiro e lutador

Pois ele se parece
Com nosso Rei xangô
São Sebastião
era de Jesus soldado
e lembramos de suas flechas
pelas quais foi condenado

Lembra nosso Rei Oxossi
Que com flechas fez reinado

São Jorge Guerreiro
De Deus tinha missão
Dizem que mora na lua
E que matou um dragão

Tem o Tobe Odé
Nosso rei Ogum
Guerreiro do Ifé
Que guarda o ferro de Olorum

A nossa santa Barbara
Tinha em Deus sua missão
Foi degolada pelo pai
Que morreu de um trovão

A rainha yansã
Do reino de Oxalá
É sempre quem diz
Onde o raio cairá.


Oxalufã, Oxalufã
Pode te prepá
Que agora mãe Tiana
 contigo vai falá

Prepara tua cabeça
Pra bater no chão
Que nós vamos te levá
pro sagrado barracão

Fala Mundico.



Me Valha meu Deus



E Nossa Senhora

São Raimundo Nonato

Protetor de toda hora



O Mundo é todo de Deus

Seis dia em Criação

Por que no sétimo dia

Não criou mais nada não.



Antes de todos os santos

Veio Eva e Adão.



Adão é o Homem

Vem do Barro da Terra

Que deu uma costela

para Deus fazer a Eva



Foram proibidos

De um fruto comer

E a serpente convenceu

Eva de ceder.



Eva pecadora

Não queria ficar só

E convenceu Adão

Que pecar era melhor.



Ai Deus em sua Ira

Decidiu que outros homens

Eva produziria

E também lhe castigou

Com o sangue da intriga



Tirou do Paraíso

Os falsos dois cordeiros

E mandou pra cá pra terra

Que é todo o mundo inteiro.



Olha pra ele

Olha veja só

Ele acha que o mundo

É Feito todo de um só



Quem fez o Mundo foi

Obatalá e trabalhou muito

Pra lhe inventar

Quem deu o barro preto

Foi a Íyá Nlá



E nós somo tudo

Égbòn e Áburò

Que quando

Deu a vida

Não deu foi pra um só


Antes de Obatalá
Vem Olodumarê
que nos deu os Orixá
E é o dono do Axé

Conte pra nós
Que queremo sabê
Algum segredo
Pra nós aprendê

O primeiro casamento
Não foi com Eva não
Existia Lilith
Ex-esposa de adão

O Homem e a Mulher
Pecam desde Então
Pois somos todos filhos
De Eva, Lilith e Adão.

Depois do mundo cheio

Deus queria nos dizer
Como resolver as coisas
E mandou Jesus Descer

Quem Pariu Jesus
Foi a Virgem Maria
Que nessa vida
 Homem não conhecia

José aceitou
com ela se casar
e criar o filho de Deus
que ela estava a esperar.

Jesus era pobre
De marré Marré
E nasceu numa
Manjedoura
Improvisada por José

Quem é Jesus
Queremos sabê
O que veio consertá
E o que queria dizê



Jesus Tem duas Festas
Feitas pra celebrar
No Natal e na Quaresma
Temos que nos Lembrar

Quarenta dias
Antes de Jesus Morrer
Tem o carnaval
E tudo pode acontecer

O Carnaval
É de Eva e Adão
A gente pode pecar
E não tem castigo não

Eu sou um rei
No Reino de Oxalá
E do seu carnaval
Nos vamo se lembrá

O nosso rei
Mandou se avisá
Que do carnaval
Nós vamo se lembrá


De quem é que é?



Ogum acende o fogo


para ilumiá

Os caminhos por onde

a minha lança vai passá



Deixa eu te dá mais ferro

Pra tu guerrear

Lembre sempre desse fogo

Pras coisa concertá



Oxalá teu rei mandou

Eu te contá

Pra tu procurá na mata

Coisa de num se apagá



Logunedé

Logunedé

Tu me diz agora

O que é que tu é



Deixa que eu traga

Uma vara pra te dá

Tu mergulha ela na água

Pra vê o que tem lá





Oxalá o rei

mandou eu lhe dizer

Pra ti mirá

Bem no que tu qué.



Raimundo se Levantou

Como se fosse nada

Deu três rabo de arraia

E duas rodopiada

Pra cima do preto velho

Que deu doze desesquivadas



Foi foi foi foi Logunedé

Que veio mostrar pra gente

O que é que ele é



Raimundo levantou a cabeça

Rodou a flechada de Oxossi

Encostou a planta do pé no

Peito do preto velho



E cantou







Não sei de onde venho

Nem sei pra onde vou

Mas pra nessa Roda

Oxaguiã que me rodô





Ele é quem tem

Uma adivinhação

Conte para nós

Um segredo de visão





Quem é o rei eu quero saber



Desce Preto velho

Pra ele aprendê



Caiu foi de rasteira

De rasteira ele caiu

E o pé do nosso rei

No chão ele que viu



Ele é o rei

Logo pude ver

O senhor mande os

Guerreiros

Pra eu lhes conhecê.





Oxaguiã, Oxaguiã

lhe faz muito bem

Procurar uma anciã



Chama Onilê

chama Onilê

que ele de cajado

tu precisa vê



Veja esse cajado

Que eu vim te trazê

no fundo desse saco

tudo pode acontecê



joga Onilê

joga Onilê



o que tem nesse teu saco

pra eu me defender





Te defendê não vai precisá

Bote a cabaça no arco

Pra nós escutá.



Canta Oxaguiã

Canta Oxaguiã

Que acaba de abrir a roda a anciã



Toca Oxaguiã

Toca Oxaguiã

O que não for de falá

Tu toca Oxaguiã



Abram a roda

Pra nossa anciã

Que vem trazendo

a pedra de nanã.





Toca Oxaguiã

Com a flecha do guerreiro

Que antes de lutá

Se canta no terreiro.



Canta Oxaguiã

Canta Oxaguiã

Que antes de lutá

Tu canta Oxaguiã.

Canto de Oyó





Pai Oxalá foi rei
Lá do reino de Oyó
Que por sua vontade
Seria um reino só.

Eu sou um rei
No reino de Oyó
Na guerra perdi a perna
E briguei numa perna só

Pula numa perna
Pula Tiriri
Por que os homi armado
Tão bem atrás de ti

Eu sou um rei
E posso enfretá
O que de melhó eu tenho
É a coragem e não vou dá

Quando Oxossi veio
Para os hômi enfrentar
Veio armado de flecha
Pra de longe derrubá

A minha Flecha tem pena
E tem pena o teu cocá
Pra tomar o nosso Reinado
Vão tê que nos enterrá

Oxalá teu rei
mandou te aconselhar
Disse que numa guerra
O importante é ganhá

Acenda o fogo
Para o pai Xangô
No ferro da minha flecha
Foi ele que me ajudô

Acenda seu fogo
Que eu vou lhe mostra
Aprumar seus ferro
Pra pode te alimentá

Oxalá teu rei
Mandou lhe avisar
Pra lutar até a morte
E pra nunca se entregá

Yansã Rainha
de vermelho  se pintô
pariu mais de dez reis
e na terra ela reinou

Quando chove o céu
Eu faço trovejá
É que a terra se molhando
Eu gosto de apreciá

Rei Oxalá falou
Que era bom lhe avisá
Que uma flor bem linda
Ele fez pra lhe entregá

Oxum pegou o aço
E areia ela esquentou
Fazendo o seu espelho
Onde o povo se enxergô

A tua beleza
Pra ti eu vou mostrar
Pra durante a guerra
Nossa pele tu salvar

O rei Oxalá mandou lhe avisá
Que mais belos são teus olhos
Onde ele se espiá

Oxalá foi pai
De todos os reis
E são  suas rainhas
Que protege suas leis

Nanã é minha vó
Que vem me abençoar
Somos filhos dos seus filhos
Temos de lhe respeitá

Venham cá meus filhos
que eu vou lhes contá
a historia das gurerra
e as glória de ganhá

Oxalá pediu licença
E mandou eu lhe fala
Que o seu conselho
É bom de se escutá

(...)

Em terras...




No centro daquela aldeia

Tinha uma oca levantada
E dentro daquela oca
Muitas  redes armadas

Entorno da grande oca
Outras pequenas iguais
E por trás de tudo isso
A baia dos animais
Gracinha muito assombrada
Quase não desembarcava

Não fosse por Monira
que malvada lhe encarava

Porem não era só ela
Que estava a lhe observar
Mas todas as vermelhas
Que nesta hora estavam por lá

A velha já morreu?
Foi Monira a perguntar
Ainda não foi não
Tá te esperando chegar
Disse que num fecha os olho
Sem otra no seu lugá

Monira andou na frente
Das graças a lhe seguir
E moribunda como estava
A velha ainda pode sorrir
quando viu entrar aquela
que ela pensava
ia lhe substituir

Gracinha lhe pediu benção
Lhe beijou a testa gelada
E viu que Monira chorava
Na beira da rede ajoelhada

Tá aqui a ingrata
Que eu disse que ia trazê
Mas vou deixa ela mesma
Fala o que tem pra dizê

A velha com a voz bem fraca
E com a mão de gracinha segurada
Pediu que Monira saísse
Que agora ela cuidava
Do assunto que tinha
E pelo qual tanto ansiava

Monira queria ficar
A velha nem lhe respondeu
E logo do seu lado
Outra velha apareceu
Lhe fez sinal com os olhos
E a amazona cedeu

Quando Gracinha ficou
Sozinha com a Vó
Essa lhe disse
Num rápido fôlego só
Minha filha tu me escuta
Que outra vez num hei de falá

A vida dá a dita
E a nós cabe aceitá
Sei que tu vem me dizê
Que num qué daqui cuidá
mas tu tem que sabê
que num pode recusá
por que desde Una até mim
ninguém pode disso escapá
é teu destino Das Graças
tu tem que ele aceitá
a monira qué sê cunha
e isso eu num posso deixá
por que tu foste inducada
pra ficá no meu lugá
cada tempo que passa
nossos costume se perde
as mulheres da igreja
do nosso sangue tem sede
foi por isso que te criamo
com branca educação
pra que tu tivesse conhecimento

pra salvá o nosso povo
da grande devastação
que há de vir qualquer dia
mas isso eu não vô ver não
já comi coração de padre
que veio me maldizer
já fiz beata de igreja
água benta bebê
pra saber que num sô diabo
pra ela de mim se benzê
tivemos que enfrentá
muita gente enfezada
e na historia da vila
fomo muito ameaçada
como se não fosse nós
que abrimo a premera picada
Quando nós decidimo
Que tu ia sê diferente
Era na esperança de tu salvar nossa gente

A velha deu uma tossida
Gracinha ficou assutada
Pois ela mesmo
Ainda não tinha dito nada

A velha continuou
Das Graças minha filha
Não vá nos abandonar
Se tu não fica aqui
Pouco vamo durá
Desde que tu nasceu
Muitas já foi simbora
Muito já se perdeu
Seja nossa Cunhã
É o que te peço eu.

Dos olhos de gracinha
Grossas lagrimas pingavam
E suas certezas de antes
Em duvidas se trasnformavam

A velha olhou pra ela
E disse numa risada
Mas ninguém tinha me dito
Que tu já tá embuchada
Gracinha enxugou a cara
Não to não Cunhã
É inchaço de estrada
Vá se vê ca parteira
Que eu sei que não to enganada.
Gracinha se tremeu toda
Lembrando da Xícara de chá
Então  a filha de Raimundo
Era dela que ia chegar

********************
Depois que Gracinha saiu
Raimundo foi procurar
A sua embarcação
Que disse Tiriri
 sabia donde tá
foram pelo mato
até nela chegar
Raimundo correu pra dentro
E deu uma gaitada
Pois lá dentro estava
Brotada a orquídea malhada
Com a ajuda de Tiriri
 pegou as provisões
mas deixou a flor no barco
pra lhe evitar confusões
não tomo esse chá agora
por canseira de assombrações.

Tiriri avisou Raimundo
Que precisava voltar pro barracão
Que era dia de jogo
E não podiam perder não.
Voltaram correndo com as coisas
Que Raimundo queria levar
Pra dar pra Mae Tiana
Na intenção de lhe agradar
Quando por lá chegaram
Tava armada a confusão
Um entra e sai de gente
De dentro do barracão
Os homens sem camisa
Dançavam pelo chão
Viu quando Tiriri pegou
Um arco e um cordão
Amarrou uma cabaça
Pegou uma pedra na mão
Tirou a ponta da flecha
E com ela bateu no ferro do arco
E tudo aquilo junto
Fazia um som muito alto

Raimundo ficou olhando
Sem muita coisa entender
E sem saber direito
 o que ia acontecer
Tiriri falou pra ele
Que era um jogo antigo
Que lembrava do tempo
Das lutas contra inimigos
O arco a gente usava
Pros miseravi flexá
 A cabaça servia
pra mó de se alimentá
e essa pedra nós usa
disse rindo
pros passarinho matá.
e tem chocalho de pedra
 pro malzagoro espantá
Quando se perdia na floresta
E precisava se encontrá
Nós ajuntava tudo
E fazia barulhá
Um toca daqui
outro responde de lá

Mas sempre acabava em briga
Pru que os inimigo
Também podia se achá
E hoje nós toca e nós briga
Essa briga de jogar
E isso tudo nós faz
Pra lembrá dos ancestrá.

Eu vou levar as coisas pra mãe Tiana
E volto já já
Tiriri pegou as coisas
E foi correndo guardar
Disse pra Raimundo
Pra na roda se sentá
E que ficasse tranqüilo
Que se num fosse pra ele
Num precisava jogá.
Raimundo sentou num canto
Fora da roda ficou
Mas foi o mesmo preto velho
Que lhe deu o fumo
Quem pra roda lhe chamou
Venha pra cá seu Raimundo
Não precisa se assustá
Que por aqui só joga
Quem for mesmo pra jogá
Mãe Tiana veio de dentro
E disse que era pra começar
E disse pra Raimundo
Que aquelas coisas roubadas
Ele voltasse a embarcar
Que por ali não podiam
Aquelas coisas aceitar
Raimundo abaixou a cabeça
E ficou triste a cismar
até que uma cantoria
fez ele de novo se espertar

“Tiriri venha pra roda
Que nós vamos lhe contá
Como foi que aqui chegamo
Num navio que era um currá

Ai me diga preto velho
to aqui pra lhe escutá
por que é aqui que estamo
e onde havera nós de está

Já faz mais de muitos anos
Nos vivia em outro lugá
Era um reino bem bonito
E nós era os rei de lá

Nosso povo era de guerra
Mas guerra de conquistá
Lá nós num se acorrentava
E brigava de iguá  pra iguá

Um dia chegaro os branco
E começaro a atirá
Botaram nós num barco
E trouxeram nós pra cá.

Preto velho então me conte
Que eu quero sabê
Então eu era o rei
Antes disso acontecê?”

Soaram mais fortes os arcos
E todos cantaram juntos

Eu era rei do reinado de oxalá
Iansã, oxum, Oxossi,xangô, Orunmilá
Eu já fui nobre do reino de Oyó
Onde Oranmiyan defendeu Oduduwá

Nosso povo é de paz
Isso eu posso provar
Pois  Oranmiyan deixou
Adimu também reinar.
Em terra de gente forte
Um homem se acovardô
E Oba Ajaka foi sucedido por xangô

Ê ê ê na minha pele preta ninguém vai batê
Êêê na minha pele preta ninguém vai batê

Soaram mais altos os instrumentos
E o Preto velho e Tiriri começaram a jogar
Enquanto Raimundo muito estranho
Sentiu seu corpo arrepiar
e aquela cantiga nunca antes ouvida
ele também se pôs a cantar.

Os homens se arrumaram
Em fila pra jogar
E depois dos dois primeiros
Vieram outtro e se puseram a cantar

Exu Guardou templo
Ogum ferro esquentou
Oxossi trouxe a caça
Logunedé pescou
E foi Omolu
que com  milho me curou

Corre daqui , pula de lá
Vai pedindo a bença pro seu orixá
Joga daqui, jinga de lá
Dos ferros dos branco
Eles vão te livrá

Tem sete cores o arco de Oxumaré
E somos todos filhos de Iyami-Ajé 
O meu cabelo quem me deu foi yewá
E dos meus filhos é obá quem vai cuidar

Corre daqui , pula de lá
Vai pedindo a bença pro seu orixá
Joga daqui, jinga de lá
Dos ferros de escravo
Eles vão te livrá