Raimundo e a Profecia.





Quando Raimundo Chegou
 na porta do Barracão
foi logo se ajoelhando
e botando a cabeça no chão.

Ficaram parados na porta
Esperando  a convocação
Tava com o corpo moído
Das roladas pelo chão.

Mãe Tiana sentada
 num bem alto lugar
olhou pra Raimundo
e fez sinal pra ele entrar

Apontou pra um canto
onde os homens se arrumavam
e onde muitos tambores
calados esperavam

Raimundo chegou mais perto
Lhe deram atabaque na mão
E lhe ensinaram três toques
Pra tocar no barracão.



As mulheres foram entrando
Em muitos panos enroladas
Com suas cabeças cobertas
Todas muito caladas.

Mãe Tiana cantava
E todo mundo respondia
Iam avisando Raimundo
Quando o toque mudaria.

Mojubá
Mojubá
Abre os caminhos
Que ele que passá
Ê Mojubá
Ê Mojubá
Ele traz recado
É mensageiro de oxalá

Conte pra nós
O que quer dizer
E qual o recado
 que lhe faz aqui descer.

Oxalá mandou
Mandou eu avisá
Que nossa Rainha
Está vindo de lá

Oxalá mandou
Mandou eu lhe dizê
Que a profecia
 está pra acontecê.

Cantamo pra subir
Cantamo pra desce
Guardamo  seu recado
Depois dele recebê.

Mi-Ami-Mi
Eu quero jantá
E um gole de pinga
também eu vô tomá
que preciso de força
no caminho de voltá.
Ê mojubá
Ê Mojubá
Ele já partiu para o lado de lá

Êpa Babá
Êpá Babá
Confirme seu recado
Nosso rei Oxalá.

Eu já falei e vô confirmá
Que os povo separado
vão se misturá
Eu já falei e eu vô repiti
Que uma rainha
uma rainha vai pari.

Cantáro pra descê
Cantáro pra subi
E eu já fiz
O que vim fazê aqui.

Êpa babá
Êpa babá
Ilumina esse caminho
Ò Rei Oxalá.

Odo yá,
 Odo yá,
Historia de rainha
Nos conta Yemanjá.

Uma nossa rainha
Do reino descerá
E ela sobre o povo
Dessa terra reinará

Essa Rainha
eu vô lhe contá
será uma mãe
de água,  terra e ar

os segredos do fogo
também saberá
e do sei reinado
todos vão lembrá

Cante para mim
Para eu subi
Que o que eu sabia
Eu já contei aqui.

Odo Yá
Odo Yá
 quem te leva nos caminho
É o Rei Oxalá.


Cada mulher que rodava
E trazia seu recado
Raimundo mais forte batia
E mais ficava alarmado
Pois sabia que ele estava
Naquele enredo enrolado.
Atotô
Atotô
Obaluaiê
Conte para nós
O que devemos sabê

Toda coragem
que vai precisá
A nossa Rainha
do reino trará
Eu vou dizê ,
pode acreditá
Que essa Rainha n
ão vai fraquejá

A sua saúde
eu vou lhe trazê
Ela será forte
como tem que sê.

Cante pra subi
Que eu já vou lá
E quem me chama
É Rei Oxalá

Atôtô
Atotô
Obaluaê
É o nosso povo
Que vai lhe agradecê. 

Pra que quê é?


E quem foi que a andiroba descobriu?

Foi a Jatuira, estava boiando no rio.

Como ela fez para lhe espremê?

Cozeu os caroços até o óleo amolecer.

Como ela descobriu a sua função?

Curou uma ferida de espinho em sua mão.


Vamos Das Graças venha me repondê
O que é o Babaçu e o que dele fazê?

Do babaçu tudo vai se aproveitar
da palha se faz um paneiro e um colar
Se a palha estiver seca faço dela um tipiti
põe-se a bucha da castanha em poqueca de matapi

Tem outra coisa que eu vô te ensiná
essa trança apertada faz mais duro teu cocá.

Do babaçu, que mais tu vai dizê?
que serve pra fazer leite se o da mãe enfraquecer.

e a cabaça pra que te servirá?
Se eu me perder, eu vou ela soprar
pra fazer um bom barulho para os bichos espantar.

Quem fez primeiro o babaçu tecer?
foi a Jurema quem primeiro pos a mão
quando viu que dele vinha em cima o camarão.

Venha Gracinha Venha me dizê
o que da copaíba se poderá fazê?
Com a copaíba a pele eu vou curar
ponho ela na ferida, para bicho não minar
se a dor de barriga não quiser passar
um chá de copaíba haverá de curar
serve para no cabelo a caspa não se espalhar.

Da Copaíba o que mais tu vai dizê?

Foi o Pena Verde que lhe fez aparecer
quando uma sua tosse ela fez desaparecer.

A copaibeira também te servirá
pra o cabo do martelo e a perna do girá.
ela também te tira a coçeira dos lugá.
Espia essa cabacinha que eu vou te mostra
põe num molho em copaíba
e depois tu faz um chá
e assim é que se invita
uma barriga sem lugá.

O Caminho de Gracinha.

Essa é a égua de ti
criada pra te levar
pra onde tivé que ir
Pois minha filha
eu vou te contá
A historia do teu povo
que tu tem que sabê
desça dessa bicha
e vamos procurá
as coisa que tem no mato
que nós vamos tê que usá
Lembre sempre de gostá
do seu corpo na transformção
que o tempo passa
e as coisas vem e vão
As vez as coisa são pequena
outras vez são tentação
mas saiba sempre
tá com o controle na mão
não pegue coisa dos outro
que os outro vão atrás
e só tenha coisa que o braço
dê conta de suportá
quem consigo carrega muito
muito perderá
quem nada tem
nada lhe faltará
Lembre do que eu lhe disse
nos tempo de nossos passeio
maior de tudo é o mato
donde tudo está
procure por cá as coisa
onde tem tudo que precisá
se tiver um raio de sol
é lugar de se plantá
se por lá bate a lua
é trilha de caçá
Cada coisa tem seu valor
e tudo procura lugá
mesmo o rio que sempre corre
num canto igarapé será
lembre que as coisa grande
são coisa de conquistá
num é bom pegá escondida
melhor é sempre tu lutá
lembre que sê Cunhã
Haverá de lhe bastá
pra tu sabê bem das coisa
o valor que tu vai dá
Cada coisa tem seu valô
mas se tu é a cunhã
tu bonta quanto for
Quema sabe das coisa é a dona
sabe até o seu senhô
quando for pro teu povo
veja como é que faz
aprenda sempre os costume
que garante trégua e paz
As coisa solta no mundo
não vira nada não
nós só faz do mato paneiro
se botá nele as mão

Espia um meritizeiro
por onde vamos passá
aqui nos serve de ponte
pra nós num tê que nadá
quando tu olha de baixo
forte como ela é
tu nem pode imaginá
que ela é quase oca
e melhó de carregá
o meritizeiro caido
é ponte pra todo lugar
e em cima da sua casca quente
comida dá pra secá
e o braço do meritizeiro
faz uma vila toda boiá
Da fruta se faz o vinho
que vamo servi por lá
fermenta desda lançante
tomaremo antes de cavalgá
agora vamo catá umas folha
pra dona Chica levá
ela tá triste contigo
nem comê num queria
Tu vai sabendo que o que tu fez
foi das grande covardia
As mulhe da santa
pra cobra vão te entregá
e se ela não te comê
elas vão te pegá
pra ve o que tu entende
das reza que tempo lá.
dona xica vai dá a festa
da vrespa da procição
depois nós faz as pintura
e faz as invocação
das antiga mãe guerreras
que nossas égua guiarão
Vamo pegá a andiroba
pra ona chicá levá
me diga Das Graças
pra que ela servirá?

Gracinha subiu na pedra
portugues no peito disse
A arraia nada tranquila
boia nágua seu ferrão
mas se tu lhe pisa em cima
ela o deixará no teu tendão
põe andiroba por cima
hora em hora um arrancão
Se acaso estiver tão fundo
tome um gole com limão
tem uma vantagem na andiroba
sua mais valença o amargor
que distrai na boca do sujeito
o gosto de sangue e dor





O que faz a parida esta semente
tu vá me dizendo faz favor

Pode passar aquecida pelos peitos
e o leite não lá não secará
e passada sobre as crianças
afasta os bichos de lhe pegar
E se queima junto em mato seco
nuvem de inseto espantará

O que mais tu sabe da andiroba?
me dê uma maior explicação


Tira a espinha de goto de pequeno
cura tosse, fraquesa e roquidão
seca qualquer tipo de ferida
e bota sobre elas bom cascão
ajuda na tirada dos espinhos
e ajuda a arrancar o carnegão.

Se comeres coisa estragada
é bom das folhas fazer um chá
pois tudo que tiver na tua barriga
ele para fora botará.

O galho não faz parede
nem serve pra forrar o chão
mas é bom pra forrar berço
e pra por na cama do ancião
cura, as picadas e mordidas
serve para desinflamação
e além de tudo sara
 ferida de escorpião.

as sementes nascem de quadrilha
e boaim pelos rios nos temporais
ferve ela por dois dias
depois aperta elas no tipiti
o oléo se guada na cabaça
e ajuda até as vermes á sair.

Gracinha e o maracá





Quando Gracinha pegou o maracá
A Monira deu pra ela uma espiada
E gritou na cara de gracinha
Mais muito injuriada
Tu vai se cunhã?
Mas isso eu quero vê
Por acaso tu sabe
O que tem que fazê?
E sabe o que na cavalgada
Vai tê que acontecê?
Sabe o que é carvão
Genipapo e urucum?
Por acaso tu sabe
Que o barro do muiraquitã
Não pode ser qualquer um
Sabe contar as lua
Sabe quando plantar
E quando tem que colhê?
Pois eu sei que essas coisas
Tu num deve nem sabê

Gracinha que nem teve tempo
Da velha cunhã chorar
Viu como que por milagre
A velha se levantar
Pegou ela pelo braço
Tirou dela o maracá
Das Graças o que tu já disse
Tu num pode desdizê,
Agora a nossa cunhã
Tu vai tê que sê
Mas num te aperreia
Que eu vou te ensiná
Tudo que tu tem que sabê
Pra ficá no meu lugá
Gracinha não entendeu nada
Daquela situação
A cunhã não tava morta
E nem doente não
Tava mais viva que ela
E parecia um furacão
Pegou saia de palha
Trança de taboá
Dizendo que era pros dente
Dos bicho  ela pendurá
Cunhã por favor nos diga
O que foi que aconteceu
Que seu mal num estante
por milagre desapareceu
É que quando eu fechei o olho
Vi Una, jurema e jatuíra
Elas me disseram
Que pra cá eu voltaria
Pra melhó te prepará
Pra cuidá das nossas filha
Vou te contá a história
Do mundo desde o começo
Vou te ensiná as pintura
As festa e os adereço
Te explicá o que faz uma amazona
Da sepultura ao berço.
Gracinha engoliu seco
Peito cheio de aflição
Lá vinha mais coisa pra sua cabeça
E Raimundo no barracão
Onde tava seu homem
Enquanto ela se encontrava
Naquela situação
A velha dava ordens pra todos os lados
Falou pra Monira
Que  escondesse o desagrado
E fosse fazer da cerimônia o preparo
Que ela ia sair com Gracinha
Pras coisas lhe ensinar
E que ia na Vila
Com a cobra Grande tratar
Falar com as mulheres da Igreja
E com a Xica do Chá
Gracinha encheu o olho de lágrima
E se deixou um pouco chorar
Lembrando da traição
Contra quem lhe quis criar
Agora vamo lá fora
Que tem um povo á te esperá
Levantou o braço de Das Graças
Sacudiu o maracá
Chegou a nova cunhã
Que vai nossa tribo mudá
E trás consigo a Menina
Que  tudo nós vai juntá!
Agora vamo prepará a festa
Que antes que mude a lua
Nos havemo de cavalgá
Jacinta veio trazendo
Duas éguas forradas
A cunhã velha deu um pulo
Que gracinha ficou desconfiada
Que não tinha doença nenhuma
E era tudo outra cilada
Montou também na outra égua
E partiram em disparada.
pra resolver as confusões
que Das Graças deixou armada.