O charque é do Bom Juca do bar
com o qual a pouco
estive a negociar
lhe trouxe para seguir o caminho
o qual pretendo trilhar
É da cidade de Juca que venho
e é de la meu barco
que já foi do Seu Maneca
que nos deu como regalo
Pois o senhor me acompanhe
que precisa ver alguem
é dona Tiana Jacinta
quem manda nesse lugar
é a mãe de todos nós
e consigo haverá de falar
Aqui conhecemos o Juca
e seu charque é tradição
e deve haver do senhor um recado
trazido na embarcação
que essa aqui é a regra
para iniciar negociação
Das Graças voltou para o barco
pro seu vestido trocar
e foi só ai que viu
o que não havia notado
a orquídea malhada florescida
dentro do vaso roubado
Gracinha levou consigo
muitas roupas para usar
mas sempre queria vestidos
pra melhor se apresentar
Escondeu a orquídea malhada
por tras dos pés de coentro
e pegou a valise
onde guardava unguentos
eu prefiro não ir agora
disse raimundo Nonato
ao que lhe foi respondido
tens de ir pois não há trato
por aqui só fica, quem dona Tiana
oferece prato.
Gracinha pulou na frente
com penteio e bem arrumada
e trazia esposto no peito
uma pedra verde amarrada.
Raimundo não tinha visto
a pedra de Gracinha
e não pode lhe perguntar
posto que de longe vinha
um amontoado de gente
pra lhe oferecer
companhia.
Foram todos caminhando
numa grande procissão
até entregarem o casal
na porta dum barracão
Gracinha seguia na frente
parecia estar entendendo
enquanto Raimundo voava
no que estava acontecendo
Quando entraram eles viram
uma grande negra sentada
tinha na mão um cajado
e em em torno de si
dez de escoltada.
Louvado seja o senhor Jesus Cristo
disse Raimundo bem rápido
Gracinha na sua frante
pôs o joelho no chão
e abaixando a cabeça
botou na testa sua
De onde te vens minha filha
onde deixaste o umbigo
e qual a hitória
do sapo que vem contigo
Raimundo não entendeu
por que a mulher lhe ignorava
mas achou muito bem
porque agora ele pensava
que explicação daria
pro charque que carregava.
Eu sou Maria das Graças
Filha da Chica da vitória
e posso lhe contar pouco
pois pouco sei de minha história
a pedra que trago comigo
me foi dada pequena
me disseram que protegia
da vida de duras penas
em sua porta fui deixada
num dia de tempestade
por isso não de parentes,
caminhos ou cidades
Este aqui é Raimundo
que agora esta comigo
foi quem me tirou
do meu mundo mais antigo.
Trouxemos provisões
e muitos bonitos vestidos
queremos abastecer nosso barco
e seguir nosso destino.
Todas as mulheres ouviam
de gracinha a explicação
mas nos seus olhares não havia
nem sombra de aprovação.
Dona Tiana se levantou
e caminhou até Raimundo
que havia ficado
na sala mais pro fundo
Aqui nesse lugar tem regra
e o senhor tem que saber
e pra ficar por aqui
tem que se fazer merecer
Me diga o recado do Juca
que dele quero saber.
O Juca não sabia
que eu pra ca eu me dirigia
por isso não tenho recado
se não eu lhe diria.
Vocês almoçam comigo
vou mandar lhes servir
um feijão com quiabo
que servimos por aqui
Posso lhe oferecer charque
pra botar no feijão
basta que eu vá lhe buscar
lá na minha embarcação
O senhor guarde seu charque
que a comida já está no fogo
e antes que vocês comam
devemos lhes botar jogo
A mulher que tinha entrado
olhou bem pra gracinha
e passou a mão em seu vestido
lhe esticando a bainha
Agora vão pra feira
não podem nada vender
nem devem nada aceitar
pois o jogo só lhe faremos
bem depois de almoçar
Aqui não queremos dormir
disse Raimundo afobado
temos que seguir
nos esperam em outro lado.
A velha Tiana saindo
ainda lhe disse uma coisa
que Raimundo não pôde entender
-Lhe digo que essa escolha,
não pertence a vosmecê.
O Elo Perdeu-se...
Há 4 anos
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