O recado de Gracinha.

Quando Raimundo e Gracinha,
saíram do Barracão
foram pra um lugar deserto

ter a seguinte discussão

Por que colocaste o joelho no chão?
onde tiver palha na porta
há de ter autoridade

e é sempre bom reverenciar

á quem governa a cidade

isso aprendi com a velha

é bom costume a se ter

saber sempre quem manda

e até mesmo obedecer

Tem algo que não te disse
por conta dessa enrascada
esta noite floresceu

a nossa orquídea malhada
Precisamos sair daqui

antes que descubram a confusão
vamos voltar pro porto

E seguir nesse mundão

Seguiram pelo caminho

por muitos olhos espiados

eram por todos vistos

e por nenhum interrogados







Quando chegaram no porto



já prontos para embarcar



seu barco lá não estava



apenas um homem no seu lugar







Acaso o senhor pode saber



por onde está nosso barco



é um grande e verde



com uma mancha no casco







Seu barco tá bem guardado



não precisa se preocupar



mas D. Tiana lhe espera



ainda hoje para almoçar



Então o senhor não precisa



o seu barco agora pegar.







Gracinha riu branca



pra cara do cidadão



e olhando no olho



e lhe pegando na mão



falou com cara de santa



perdida da procissão







temos coisas importantes



dentro dessa canoa



e temos de partir



pois é certo que o tempo voa



diga-nos onde anda



a nossa embarcação



e podemos lhe dar



alguma provisão











O homem se soltando



num gesto bruto danado



saiu da frente dela



com um salto pro lado







O que tem na sua canoa



tá sob os meus cuidados



talvez eu não fique com nada



talvez nos sobre um bocado



é certo que voces dois



tão sendo pro almoço esperado







Como ainda tem tempo



voces podem bem decidir



ou vão resolver as coisas



ou podem tentar fugir



a minha parte é não deixar



daqui vocês sair



antes de a gente saber



como chegaram aqui







Raimundo desconfiado



disse pro cidadão



não pretendemos fugir



apenas ir na embarcação



pois temos de pegar coisas



para nossa refeição



ainda estamos de jejum



nada ainda comemos



e sem o nosso barco



não haverá o que fazermos



pois não podemos comprar nem vender



e cá estamos nesses termos.







Pois eu vou lhes ajudar



a atravessar a manhã



também são ordens



da nossa boa anciã











Raimundo só pensava



que queria tomar um trago



e que também lhe faria



muito bem um cigarro.







o homem que lhe acompanhava



sem se identificar



ofereceu-lhe tabaco



como a adivinhar







caminhando na beirada



do mesmo rio



pararam numa barraca



onde um homem grande



enrolava corda de pavio







Bom dia Marito



já esperas anoitecer?



enrolando pavio



bem ao amanhecer







Como vais Antonino?



e o que tem nos teus cuidados?



eu só posso lhe dizer



que esta noite andei acordado



tive uns sonhos tão ruins



que acordei assombrado







no meio da noite acordei



em tamanha escuridão



que acordei fazendo pavio



pra espantar assombração



aqui está a comida



que mandaram lhe entregar



o resto da história



não precisa me contar







Agora siga na beira



que estão a lhe esperar



para lixar as cabaças



que de noite se vai usar



e leve esses dois



pra mó de lhe ajudar



pelo que eu soube os distintos



não sabem bem trabalhar







Gracinha logo falou



eu não quero lixar



leve Raimundo consigo



e me deixe por cá



que prefiro fazer pavio



pra assombração espantar











Olhou para Raimundo



e este pode entender



que Das Graças tinha um plano



que agora não podia saber



mas foi se embora com Antonino



e com Marito a deixou ter.







Quando os dois homens partiram



pra exercer função



Das Graças pra Marito



fez a seguinte interrogação



Como foi seu sonho?



com que assombrações?











Tome este metro de corda



e vá fazendo o pavio



só de me lembrar do sonho



tenho cá um arrepio



sonhei que a cidade



era de manhã invadida



por mais de cem éguas montadas



por mais de cem raparigas



que vinham aqui



pra resolver uma briga.







E o que mais acontecia



perguntou Gracinha danada



pra saber se era um sonho



ou se era uma cilada



pois sabia muito bem



quem eram as mulheres narradas.











A gente lhe dava uma flor



que era muito da engraçada



nascia dum capim,



e era toda pintada



ai elas iam embora,



mas deixavam inpendurada



na porta de cada casa



uma pedra verde furada.



De noite as pedras viravam



mil sapos barulhentos



e esses tantos sapos



fizeram parar o tempo



e aparecer os reis



do reino donde viemo.







Gracinha ficou assustada



com aquela descrição



pediu licença pro homem



pra ir procurar Raimundo



pois precisava lhe ver



naquele mesmo segundo











Vá onde quiser



não precisa me contar



mas pense bem se resolve



ou se vai mais aprontar.







Gracinha nem lhe deixou



terminar sua piada



e seguiu pela beira



e depois mudou de estrada



ia procurar o barco



e a sua orquídea malhada



só assim ia saber como sair



daquela enrascada.











quando ia andando pelo meio do caminho



encontrou um buraco



que lhe pareceu um ninho



botou a mão dentro



e pode sentir os ovinhos



depois falou para o mato



como a fazer um chamado



que me apareça agora



quem está do meu lado



e lhe apareceu uma cobra



com um dos olhos furados







Por que fugiste de casa



sem pra ninguém avisar



agora queres ajuda



para daqui escapar?







Fugi de paixão doida



para seguir meu destino



que foi a sina do mundo



que me pôs neste caminho.







Tens de voltar pra casa



pois lá tem confusão



que está impedindo



que haja a procissão



de este recado a Tiana



e volte na embarcação



leve consigo o Raimundo



que deve pedir sua mão.







Agora volte pra trás



e não procure mais confusão.



antes de ir faça o jogo no barracão



e mande Raimundo de noite



com os homem da função



para que lá ele aprenda



algo muito importante



que lhe servirá de lição.

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